Não
leio lá muitas biografias, mas sempre gosto quando leio. Fiquei animada quando
ganhei a biografia da paquistanesa pachtun Malala Yousafzai da minha avó, e ainda mais animada
quando vi que era uma autobiografia. Afinal, quem melhor do que contar como foi
virar uma ativista dos direitos de educação gradualmente e levar um tiro do
Talibã na cabeça do que ela mesma? Hoje, tendo terminado o livro, fiquei triste
porque estava extremamente engajada na leitura.
Malala teve a ajuda da jornalista Christina Lamb na escrita do livro.
(contém spoilers)
A
Malala ganhou recentemente o prêmio Nobel da Paz e se você quer descobrir o
porquê, sugiro que leia já sua autobiografia. Malala é muito sortuda em termos
da família e ela faz questão de mostrar isso no livro. Seu pai sempre foi
muito engajado em causas sociais, ambientais e políticas e a jovem cresceu
vendo o seu pai lidar com tudo isso, assistindo a seus discursos e escutando em
silêncio os debates de seu pai com vários de seus amigos que também faziam
parte desse universo. Além disso, seu pai, apesar de religioso e comum
muçulmano, festejou o nascimento da garota – que é a mais velha de seus irmãos
– indo contra o costume de somente festejar nascimentos de meninos. Tendo isso
à exemplo não é surpresa que ela e seu pai sempre foram muito próximos, tendo
ela sido ela sido influenciada por ele na sua luta a favor da educação,
principalmente feminina.
Malala
residia o vale do Swat, onde – depois de muita luta – seu pai conseguiu abrir
uma escola que atenderia meninos e meninas da região. Mas sua conquista não foi
fácil, o pai e a família toda de Malala passaram por inúmeros empecilhos até
que a escola atendesse um número bom de alunas(os). Sendo assim, desde pequena
Malala sempre teve acesso à educação, sendo extremamente dedicada com seus
estudos. Apesar de o islamismo não proibir o estudo às meninas não eram todas
as que tinham acesso à educação e muitas chegavam à purdah sem saber ler ou escrever, chegando à essa fase a maioria
ficava reclusa em casa e começavam a usar véu. Mesmo na purdah Malala se recusava a cobrir o rosto. Apesar de ser uma
menina “moderna” perto de outras muçulmanas, Malala nada tinha de
desrespeitosa: seguia o islamismo com fé em seu Deus – Alá -, admirava seu
lindo Vale do Swat, respeitava sua religião e repetiu várias
vezes em seu livro que no Corão nada consta que restrinja a educação apenas
para os meninos. Segundo ela, o Islã prega que todas as pessoas devem ter acesso
à educação.
Foi
na época que o Talibã tomou o Vale do Swat que as coisas ficaram mais difíceis.
Os radicais islâmicos tomaram conta vagarosamente e quando se viu estavam
proibindo garotas de frequentarem a escola. Nessa época Malala começou a falar
a favor da educação à todas as mídias que pudesse. Ela e seu pai davam
entrevistas a jornais, até mesmo os estrangeiros. Foi também nessa época que
Malala começou a escrever seu blog, sob a proteção de um pseudônimo, para a
rede BBC em urdu. Malala chegou até mesmo a frequentar a escola escondida,
tendo que abrir mão de seu amado uniforme azul royal, para não ser descoberta.
Já se sabia que seu pai estava na mira do Talibã, mas todos pensavam que os extremistas não matariam uma menina. Mesmo com medo Malala seguiu em frente depois de ter recebido ameaças.
Foi quando, depois de uma operação militar que prometia limpar qualquer resquício terrorista do Vale, que Malala virou "a menina do tiro na cabeça". E é aí que se percebe que esasa narrativa só iria funcionar se fosse contada pela própria, já que ninguém melhor para explicar suas sensações após seu trauma e o que se sucedeu.
Ler ao livro "Eu Sou Malala" é uma experiência incrível, já que a narrativa, com ajuda de Christina Lamb, tem o poder de levar qualquer pessoa direito ao Paquistão, desde suas origens até a vida de Malala no Swat. A sensação é ler a um diário, o qual você já tem conhecimento da sequência de fatos e do final, mas mesmo assim se surpreende a cada capítulo com as confissões de Malala e também suas explicações sobre a história e política do Paquistão, a cultura muçulmana, os custumes pachtuns e a fé islâmica. Após ler ao livro é impossível não se sentir uma das amigas da jovem.
O livro também é importante para sensibilizar as pessoas sobre a causa da educação, em especial para todas as garotas que dela são privadas. Malala faz qualquer um daqueles que tem oportunidade e acesso livre à educação valorizar ainda mais esse bem tão especial. Segundo ela, essa luta não se concentra apenas no Paquistão ou no Oriente Médio, mas em todo o mundo. Foi em uma dessas reflexões, não só sobre educação mas também sobre direitos sociais, políticos e ambientais que Malala descobre que ser política será a maneira mais eficaz - para ela - de começar a resolver tais problemas em seu país.
Espero não ter dado muitos spoilers mas, mesmo que eu tenha dado, leia o livro! Essa é a história, mas o detalhes são ainda melhores. Beijos,
Giovanna
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